A inauguração do Estádio da Praça Monsenhor Silva Barros, que ocorreu em 25.12.1914, foi marcada por um acontecimento importante. O então S. C. Taubaté jogou amistosamente com a famosa A. A. Palmeiras da Floresta. (não confundir com o antigo Palestra, atual S.E. Palmeiras), equipe filiada à A.P.S.A. Associação Paulista dos Sports Athléticos. Apesar do grande evento festivo, o placar final apontou 6X1 para a A.A. Palmeiras. Os dirigentes taubateanos não aceitaram o resultado e, apesar de reconhecer que o adversário era na época, o mais temido, marcaram uma nova partida e novamente conheceram outra derrota 5X3, bom, desta vez já foi melhor. Um terceiro jogo foi agendado e desta vez na casa do adversário, no campo da Floresta na capital paulista.
Para esse compromisso, graças a visão do então diretor esportivo e técnico, João Rachou, dois irmãos que atuavam na equipe “B” do S. C. Taubaté, foram chamados para integrar a equipe principal. José Maria Ludgero, o Jajá e Aristides Ludgero.
Menos de duas décadas, o futebol havia chegado ao Brasil e seus praticantes eram pessoas financeiramente bem sucedidas, pertencentes à alta sociedade. Nesse momento, por incrível que pareça, pessoa de cor negra não tinha espaço no futebol. Tanto é que em crônica escrita pelo saudoso Dr. Oswaldo Barbosa Guisard, é registrado que no terceiro jogo diante da AA Palmeiras, houve restrições por parte de alguns dirigentes adversário quanto a participação dos alas, Jajá e Aristides que eram negros. Mas os dirigentes taubateanos mantiveram a posição e ambos acabaram sendo os destaques da partida historicamente vencida pelo S. C. Taubaté, com gols de Jajá e Renato Granadeiro Guimarães. A atuação de Jajá e Aristides ganhou espaço até em jornal internacional “Il Piccolo” que no dia seguinte à grande vitória taubateana, definiu: “La ala sinistra Del Taubaté, constituta da due Fratelli Neri, Jajá e Aristides, simplesmente fenomenale”.
A atitude dos dirigentes taubateanos contribuiu diretamente para a aceitação de negros no futebol.
“Eis nestas linhas justificados um dos maiores feitos do Esporte Clube Taubaté no futebol brasileiro: o ingresso do negro no futebol brasileiro! O E. C. Taubaté, sinão o primeiro foi um dos primeiro da história dos “criolinhos” no esporte das multidões”, registra Dr. Oswaldo Barbosa Guisard, em sua crônica publicada nas páginas do jornal A Voz do Vale de 1978.
Jajá e Aristides jogaram por muitos anos defendendo o E. C. Taubaté, fazendo, inclusive, parte do elenco que conquistou o primeiro título de campeão do interior em 1919.
Sobre Jajá, outra curiosidade contada também pelo Dr. Oswaldo Barbosa Gusard em seu livro Taubaté no aflorar do século, pagina 132:
“P.S. A propósito do negrinho Jajá, anotemos uma curiosidade. Foi ele desde menino, nos tempos do Vigário Nascimento Castro, um notável sineiro replicando com maestria as pesadas cordas dos sinos da nossa velha Catedral que eram na época uma das mais, senão a maior das expressões sonoras da velha e levitica Taubaté.“
Descriminação a parte, Jajá e Arisitdes, foram os primeiros irmãos que defenderam as cores do Esporte clube Taubaté, pelo menos é o registro encontrado, pois ambos praticamente iniciaram a carreira juntamente com o surgimento do glorioso alvi-Azul.
A foto que divulgamos mostra uma das equipes do S. C. Taubaté, ano de 1920, com destaque para o goleiro Moreirinha, o primeiro da esquerda para direita. Nesse time encontramos três atletas da cor negra, que sem descrição alguma, jogavam no S. C. Taubaté.
Na terceira parte da matéria que publicaremos na quinta-feira (26), estaremos contando alguns detalhes da história dos irmãos Simi (Aldo, Luiz, Romeu e Renato).
Aguardem !